Postado por Matheus Arcaro em 03/ago/2018 - Sem Comentários
Se você faz parte do time das super hiper mega pop stars, desconsidere o conselho do título. Caso contrário, previna-se. Tome seus remédios à risca, afira constantemente sua pressão, durma bastante, alimente-se de acordo com o que os nutricionistas orientam na TV e o mais importante: reze, ore, clame pelo amor de Deus.
Esticar as canelas em pleno Mundial é pedir para ser escalado no elenco dos esquecidos. Mais: você corre o risco de não ter sequer uma homenagem singela antes que os vermes comecem seu trabalho. Contudo, o oposto disso também é possível: ser lembrado por muito tempo como o grande empata foda. Afinal, nessa vida mercadológica, pouquíssimas são as vezes que nos permitimos encher a cara em plena segunda-feira à tarde.
Seleção em campo? Não se atreva nem a passar mal. Onde já se viu fazer os amigos e parentes, fervorosos patriotas, trocar o amarelo canarinho pelo preto urubu? O mais sensato é segurar as pontas e esperar por um evento menos relevante para o país. Quem sabe, em 14 de agosto, dia da Unidade Humana ou em outubro nas eleições presidenciais!
Os que almejam ao menos um cortejo com as gerações futuras, atenção redobrada, já que o seguro morreu de velho. É de bom tom não bater as botas entre meados de junho e meados de julho de qualquer ano. Afinal, Michael Jackson só existe um, rara exceção, salvo pelo seu quilate. Mesmo assim, há quem diga que as vuvuzelas africanas abafaram as homenagens pelo aniversário de morte do cantor.
Deus, brasileiro que é (com muito orgulho, com muito amor), vive um terrível paradoxo este ano: ou assiste aos jogos ou atende às preces dos súditos, principalmente as que lamentam as enchentes do nordeste. Mas, se me permite dizer, Senhor, essa dificuldade é apenas aparente. Resolvê-la-ia se fizesse uso de Sua Onipresença. Assim, assistiria aos espetáculos sem iguais da nossa Seleção e, ao mesmo tempo, repreenderia sua filha Natureza por suas traquinagens no nordeste do Brasil. É matemático: quanto mais orações atendidas, menos almas a serem julgadas. Mas como o Senhor escreve certo por linhas tortas, contento-me em esperar até o apito final para analisar a súmula.
Lamento não ter escrito esse tratado antes. Poderia tê-lo enviado ao ilustríssimo senhor José Saramago. Justo o senhor foi cometer essa deselegância? Era propícia a hora de alargar a intermitência da própria morte, mas não. Apressou-se em conferir pessoalmente se a descrição do Cristo do seu Evangelho batia com a das Sagradas Escrituras. Foi-se nessa época por modéstia, diriam seus leitores. Homem das palavras que era, não creio. Seja como for, entre uma notícia de gol e outra da ranhetice do técnico anão, pouco se falou da morte do único escritor de língua portuguesa a ganhar o prêmio Nobel de Literatura.
A morte é um fato. E, se contra fatos não há argumentos, não vale a pena terminar este texto. Todavia, como brasileiro, não desisto nunca e trago à tona o parágrafo derradeiro e prescritivo:
Com ufanismos futebolísticos e eufemismos sociais, continuamos a empurrar com a barriga as mazelas do brasileiro, sedado a pão e circo. Circo vazio, diga-se de passagem, já que os palhaços, os mágicos e os malabaristas, há tempos velam a Esperança do povo com a bandeira do Brasil sobre o caixão.
Postado por Matheus Arcaro em 03/ago/2018 - Sem Comentários
Contava eu com 14 anos quando, um dia na escola, projetei-me com 30. A imagem foi assustadora: um velho de terno e gravata, testa vincada e um olhar baço que via o próprio futuro como um ser pálido e mirrado.
Hoje pela manhã, 05 de janeiro de 2014, a projeção bateu à minha porta. E trouxe entre os seios um Matheus bem diferente do que aquele que o adolescente cheio de espinhas imaginou.
Dizem que fazer 30 anos é um marco. Porém, como os marcos não existem fora do âmbito da convenção, posso supor que sou hoje o que era ontem acrescido das experiências que preenchem esse hiato. E esses hiatos somados fazem de mim um homem que, se encontrasse uma lâmpada mágica entre os desejos entulhados, jamais pediria para voltar aos 20 anos. Por quê?
Porque aprendi que viver é qualquer coisa inominável, mas irrevogável e intransferível; uma coisa bem diferente do que somos condicionados a fazer desde pequenos. Aprendi que sou um porvir que cessará somente quando eu deitar num caixote marrom. Aprendi que “quem faz o destino é a gente, na mente de quem for capaz”: que me formo no tempo, de modo contínuo e constante, sem auxílio de quaisquer instâncias metafísicas. Aprendi que a lamentação não tem o poder de revogar o passado e que a esperança é uma dama ardilosa, excessivamente maquilada. Aprendi a amar intensamente o presente e ver a vida em sua inteireza como uma tela sublime, cujo pintor (que sou eu) continuará suas pinceladas enquanto respirar.
Contudo, sei que ainda só enxergo o mundo pelo buraco da fechadura. Sinto como se estivesse no primeiro terço da leitura de um livro imenso mas, que de tão bom, torço para que não acabe. Por isso vejo os próximos 30 anos feito uma criança em frente à vitrine de brinquedos: quero reforçar os laços afetivos que já costurei e, principalmente, criar novos para que o meu pau-de-fitas fique cada vez mais colorido. Quero me estabelecer como escritor, concluir mestrado e doutorado. Quero me enfiar de cabeça em tudo o que é criação humana. Quero abrir meus poros para o “Sentimento do mundo”. Quero, enfim, viver cada segundo pensando no dia em que eu estiver com 90 anos e, com a caneta ainda em punho, olhar para trás e afirmar de boca cheia: valeu a pena!