Postado por Matheus Arcaro em 31/out/2018 - Sem Comentários
(Resenha publicada por Luigi Ricciardi originalmente no Acrópole Revisitada)
Dizem, muitos dos filósofos que se dedicam a pensar sobre a morte e sua relação com as sociedades, que a experiência de morte é intransferível e jamais, deveras, compartilhada. O luto, a saudade e a dor sim são elementos que compartilhamos quando alguém querido de nosso entorno nos deixa (com ou sem aviso). Entretanto, a experiência da morte seria única, pertencente a cada ser, à sua maneira. A nossa morte é única, embora a ideia de morte seja partilhada.
O que dizer então sobre as pequenas mortes que temos no cotidiano da vida (não falo da petite mort, essa que nos transcende)? Se biologicamente não morremos de supetão, pois o corpo vai envelhecendo pouco a pouco e, assim, morrendo, o que dizer das mortes dos sonhos, dos amores, das coisas queridas como um todo? A morte rouba os amores que nunca, de fato, nos pertenceram. Essas podem ser compartilhadas.
Aliás, amor e morte, geralmente classificados como opostos e distantes, tendem a se tocar muitas vezes na vida. Por isso o título “Amortalha” foi uma ótima escolha vocabular de Matheus Arcaro para seu livro de contos, publicado pela Patuá em 2017. O que o título quer mesmo dizer? Apenas vestir com mortalha um corpo morto ou relacionar amor e morte em uma só palavra que cobre o ser humano em sua total existência? A resposta fica para o leitor.
A morte pode significar um certo renascimento como em “Fora do ar”, conto pincelado de fantástico, que substitui o “assistir” pelo “ver”, da passividade à ação. A poeticidade da morte, pelo olhar de uma criança em “Pra onde a gente vai?” é ligada ao ciclo da vida: não se vai, fica-se, renova-se. Há várias mortes que tocam a personagem Sara em o conto “Fé”, um esquartejamento de esperanças que vai decepando os membros dessa fé nas coisas, para salvar o amor que tem.
Como classificar a morte da esperança de um professor, que faz brilhar os olhos de um aluno, cujo comportamento futuro, acrescido de desculpas, destrói um corpo surrado pelo trabalho e tempo? E a morte dos sonhos de uma criança, que após passar anos conjecturando coisas, deixa-se levar à vontade dos outros? São mortes ressignificadas, transvestidas de não morte.
Mas também há, no livro, a morte mais dura, a inevitável foice à qual renunciamos quando ela aparece no portão a assombrar. Em “D. Nenê”, a luta contra a inevitabilidade é dramática. É também uma luta contra o esquecimento e o abandono. Uma luta perdida de antemão. Há também a morte de um amor, que só funciona quando mudo. Sons e palavras são facas assassinas em “Palavras mudas”.
O tragicômico também tem espaço no livro de Arcaro. Em “Linha da vida”, um filósofo trabalha em um centro de atendimento ao depressivo. Atende pessoas que têm vontade de se matar e buscam auxílio para não executar tal ato justamente nesse centro de atendimento. O olhar do filósofo, fatalmente, incentivará, sem querer, a fatalidade.
Destaque ainda para “Salvação”. Contos que trazem uma espécie de reatualização da personagem Baleia de Graciliano Ramos são sempre contos que trazem no seu bojo o amor e a morte de mãos dadas. Com bons momentos poéticos a permear as narrativas, “Amortalha” é um livro para se ler com coração e foice lado a lado.
Postado por Matheus Arcaro em 31/out/2018 - Sem Comentários
A União dos Artistas Independentes organizou em agosto de 2018 sua primeira exposição coletiva. Matheus participou com a obra “Mulheres dentro da Noite”.
Postado por Matheus Arcaro em 31/out/2018 - Sem Comentários
Em setembro de 2017, na Galeria de Arte Ednilton Stevanelli, em Ribeirão Preto, foi realizada a exposição “Matheus Arcaro – retrospectiva”, em comemoração aos 10 anos de produção visual do artista.
Postado por Matheus Arcaro em 31/out/2018 - Sem Comentários
(Resenha publicada originalmente em Os livros que eu li)
Já na epígrafe, Matheus Arcaro nos coloca em contato com a Filosofia. Um fragmento póstumo de Nietzsche, uma frase do Ética, de Espinosa. Tanto quanto o tema da morte, as referências da Filosofia atravessam os contos de Amortalha, naturalmente, numa escrita fluida (nem sempre linear) que usa analogias bem construídas: “Bete arrasta as sandálias como se precisasse desgrudar uma verdade da calçada”, “sua boca, uma metralhadora de Deus”. O leitor versado em Filosofia encontrará alusões que enriquecem a narrativa; o que não for, também aproveitará a leitura, pois as histórias sustentam-se sem as referências. Aqui, vale exemplificar com a ironia presente no conto Má educação, em que o professor de Filosofia, em greve, é agredido pelo policial que foi seu aluno. A Filosofia não salvou o militar, nem o professor, mas as consciências foram aguçadas.
Por toda a leitura, chama a atenção a capacidade de Matheus Arcaro para emocionar. Os contos permitem que o leitor não só “entre” na narrativa, mas que estabeleça contato com sentimentos e situações dos personagens. Parte deste alcance se deve ao fato de o autor conseguir manter a tensão e o mistério enquanto conta. No conto Como fugir? o narrador sente a beleza de forma tão avassaladora que chega a doer. A arte é absurdamente um ápice da capacidade humana de produzir beleza: “Antes a cegueira que os girassóis de Van Gogh.” A beleza da arte é comparada à beleza da natureza, Michelângelo, um deus “torturador”, como o deus que fez o vulcão e a lava vermelha que incandesce: “É deus esfregando a beleza na cara da gente”.
Na coletânea, sobressai a dor da morte nas nossas variadas experiências. A morte de nosso cão, de nosso ente amado, de nosso pai, de nosso filho, mãe, avó. A morte também do amor e a morte em seu avesso: o nascimento. É interessante notar que se no conto Alemão, o filho reage de forma racional à morte do pai, a ponto de parecer não senti-la, no conto seguinte, A flor, a epígrafe de Simone de Beauvoir já desmente toda a situação do conto anterior: “É inútil pretendermos integrar a morte na vida e conduzirmo-nos de maneira racional em face de uma coisa que não o é: que cada um se vire como possa na confusão de seus sentimentos.”, ressaltando a pluralidade dos personagens e dos conflitos. A flor, é um conto belíssimo, em que o amor por Princesa, uma gata, cresce na mesma medida que a solidão de sua dona, Clara, aumenta. As duas se tornam tão ligadas que estabelecem uma linguagem entendida por ambas e até pelo leitor. Matheus Arcaro nos faz acompanhar a dor dos últimos dias da companheira de Clara, doente e à beira do sacrifício. A morte poderá se tornar, então, gesto de amor.
Escritor que não foge ao seu tempo, Matheus Arcaro traz preocupações com relação ao presente e ao futuro das mulheres; seus personagens, não raro, são filhos de mães fortes ou pais de meninas: “Não sei teu sexo e te chamo assim! Ilustração de como será tua jornada caso sejas Camila. É mais profunda a cicatriz de fêmea, filha amada”. Também os cenários são construídos na sociedade das desigualdades econômicas, sociais e políticas. No hospital, a enfermeira de “A graça de Benedito” cuida de todos, indistintamente, inclusive dos moradores de rua que sempre voltam, doentes de novo. Em Fora do ar, o autor nos lembra, criticamente, através do seu jardineiro, que a beleza só poderá ser vista se desligarmos a TV.
Trabalhando também com humor, em Linha da vida, Amortalha traz um conto engraçadíssimo, em que Arthur, atendente em um programa contra suicídio, no seu primeiro dia, conversa com um provável suicida, Francisco (que ele insiste em chamar de Frederico). Porém, pela conversa dos dois, o conhecimento de Filosofia de Arthur (referência a Schopenhauer) só faz piorar.
Amortalha é um livro sobre os fins, sobre os começos, sobre o amor, a certeza da morte e sim, a celebração da vida. Também trata do desejo, inclusive do de morrer. Uma leitura inteligente, envolvente e emocionante.
“Filha, é bom que saibas: o ser humano não é como apresentam nas histórias de herói. Às vezes, ele pratica o mal em nome da justiça, às vezes diz uma coisa e faz outra, às vezes enterra um punhal no peito de quem ama. É bom que saibas que, enquanto algumas pessoas apanham migalhas para tapar os buracos do estômago, outras descartam comida como se fosse água barrenta. É bom que saibas que há pessoas que julgam importante a cor da outra pessoa e o que ela carrega nos bolsos. Saibas, Antonella, que, por seres mulher, o mundo, diversas vezes, vai te esfregar a proibição nas vistas. Vai te trancar portas e podar possibilidades. Vai esconder por trás de discursos coerentes o cimento que ergue a intransigência.
Não, não quero borrar tua visão com meus juízos. Não quero mostrar-te apenas a parte suja dos fatos. Estou certo de que não te assustarás com minhas palavras, mas as usará como combustível pro teu combate diário. Além disso, tu provarás, feito um faminto, a porção suculenta da vida e, com ela, lambuzarás a alma. De alguns destes momentos, sei que vou participar. Passearemos no parque em muitos finais de tarde, iremos ao cinema, falaremos sobre as danças da existência e, com tua mãe e teu irmão, chegaremos à ousada conclusão de que a vida, justamente pela ausência de sentido prévio, tem o vigor de uma bailarina.”
Excerto do conto A gestação de um pai, pag. 114/115
Postado por Matheus Arcaro em 31/out/2018 - Sem Comentários
“Cara, to amando teu livro. Tinha lido apenas um conto, hoje peguei com força, li vários, e estou encantada com a limpidez e a profundidade da tua escrita. Parabéns. Me alegra ler algo tao bom num dia como hoje, me restituiu a sensação de que somos muitos e estamos juntos. Muito corajosa a ideia de por Sócrates e Freud frente a frente. Forte e imagético o conto do motel.”
Postado por Matheus Arcaro em 15/out/2018 - Sem Comentários
Mesa-redonda na Feira Literária de Paraty, na Casa do Desejo com o tema “A arte como porta-voz da condição humana”. Falei sobre a arte a partir do olhar de Friedrich Nietzsche.
Postado por Matheus Arcaro em 30/set/2018 - Sem Comentários
Em 2011 duas obras foram selecionadas para a Exposição na Casa da Cultura de Ribeirão Preto
Postado por Matheus Arcaro em 05/set/2018 - Sem Comentários
(Por Bruna Gonçalves. Originalmente no site Amálgama)
Quando recebi o livro de Matheus Arcaro, vi que foi escrito a mim, na dedicatória, que apreciasse aquele buquê de papel. O título do livro, mesclado a tal dedicatória e unido à imagem de capa — uma violeta sobre o parapeito da janela de uma cabana de madeira, contemplando a própria sombra perante um mar de flores —, deu-me a impressão de que essa seria uma leitura leve, perfumada, etérea, de apelo estético. Então, entreguei-me despreocupadamente aos 22 contos da obra. Contudo, logo perceberia o julgamento errado que havia feito.
Violeta Velha e Outras Flores é o livro de estreia de Matheus Arcaro, professor de Filosofia e Sociologia, formado em Comunicação Social e pós-graduado em História da Arte. Além da massiva formação acadêmica, o autor, que atua como artista plástico nas horas vagas, publica textos em diversos meios de comunicação nacionais. Sua ampla bagagem intelectual e artística, aliás, reflete-se profundamente nos contos de sua coletânea. Coletânea porque seus contos se dividem em seis segmentos separados, que repartem os textos ora por suas semelhanças temáticas, ora por suas confluências de estilo.
A primeira parte do livro é composta por cinco contos. Ainda que “A Fúria Sem Som” (referência a Benji, de O Som e a Fúria, de William Faulkner) traga um tema perturbador, tratando de um homem portador de deficiência mental abusado sexualmente por sua cuidadora, todos os contos possuem certa doçura e delicadeza, além de uma inocência (por parte das personagens) cativante. Tais personagens, ainda que irremediavelmente atingidas pela dureza da vida, por seus paradoxos e suas decepções, ainda não foram corrompidas pela dor e pela tristeza do viver e do passar do tempo.
Há até mesmo certo otimismo na maneira como se desenrolam as situações, por isso a leitura é agradável, faz sorrir, esquenta o peito. Na segunda parte, contudo, temos um só conto, colocado ali isoladamente por conta do estilo distinto de sua narrativa, um monólogo interior cotidiano, corrido, de um só fôlego, maquinal. Na terceira e quarta partes, contendo cinco e três contos, Arcaro nos presenteia com o que seria o purgatório dessa “divina comédia”.
Morte, desilusão, arrependimento… As mazelas que são fruto de nossos maiores medos e inseguranças: um casamento morno, o suicídio do melhor amigo, a certeza de uma vida fracassada, desperdiçada, devorada pelas garras implacáveis do tempo. No livro, aliás, o tempo é onipotente, cruel, palpável e desesperador.
Entretanto, como o palhaço de “Reencontro”, que volta a ver sentido em sua frágil existência após reencontrar um menino, já adulto, que sempre fez com que se sentisse o mais engraçado do mundo, alguns conseguem encontrar paz no enternecimento, no cotidiano, na inevitabilidade.
Chegamos, então, ao inferno, com os cinco contos que compõem a quinta parte desse denso livro. Vício, morte, abandono, solidão, doença, invalidez, sofrimento; a sombra inevitável do tempo pairando como uma nuvem negra de chuva. O conto-título, “Violeta Velha”, ao contrário da impressão inicial que me dera, de irremediável paz bucólica, chocou-me, aterrou-me, pois é real, duro, verossímil. Arcaro nos força a ver aquilo que não queremos. Em “Visita”, esperamos ansiosos com Pedro Andrade pelas netas queridas e pela filha, que não o vê há meses, após tê-lo internado em uma casa de repouso. Sabemos que elas não aparecerão. Entretanto, aguardamos, ansiosos, torcendo para que não se repita tal ciclo de horror, para que haja amor, para que haja humanidade. Ao final, vê-se que não há.
Por fim, na sexta parte, somos presenteados com três narrativas mordazes, até mesmo cômicas. A primeira, em especial, é uma viagem ao céu, ao purgatório e ao inferno, na qual conhecemos a leitura feita pelo autor de tais universos. Deus é um burocrata que delega suas funções; o purgatório é uma sala em que se desenrola um tedioso almoço de domingo, com as tias vendo tevê, os tios bebendo cerveja, o proletariado trabalhando feito máquina; por fim, o inferno é o lugar mais maravilhoso do universo, cheio de mulheres gostosas, lap-dances e muita putaria.
Violeta Velha e Outras Flores é mesmo um buquê. No entanto, ainda que algumas flores exalem delicado perfume, outras estão murchas, têm pragas e espinhos no caule. O que, na verdade, engrandece, ainda mais, sua beleza e
Postado por Matheus Arcaro em 02/set/2018 - Sem Comentários
A obra de Guimarães Rosa, publicada em 1946, foi apresentada por Matheus Arcaro no Sesc Birigui em agosto de 2018.
Postado por Matheus Arcaro em 27/ago/2018 - Sem Comentários
(Por Alex Bessas. Originalmente no site A mulher do piolho)
Editora de um homem só e muitos prêmios, a Patuá, comandada por Eduardo Lacerda, é o selo do segundo livro de Matheus Arcaro. O lado imóvel do tempo é a segunda publicação do escritor paulista e seu primeiro romance. A sonoridade poética do título contrasta com um enredo que lembra os clássicos da literatura noir: seu protagonista, Salvador dos Santos, é um bancário aposentado, acumulador de fracassos, que, para cravar seu nome na história e sobreviver ao tempo decide que precisa matar gente. O livro no entanto é mais denso, sem em nenhum momento deixar se ser fluido, que a sinopse faz crer.
Da relação kafkiana com sua família, a mãe protetora é antípoda do pai, pastor evangélico que em todas as passagens censura Salvador; da descoberta do corpo e da sexualidade, quando, em um curto intervalo, o pré-adolescente se sente seguro de si até ser imediatamente constrangido; da dificuldade na sua lida com as mulheres; do casamento que acompanhou o mau êxito da carreira literária — uma de suas tentativas de se eternizar pela poesia; do trabalho mecânico em uma agência do Banco do Brasil; da aposentadoria e da solidão; todas idiossincrasias conduzem o Salvador a uma série de questionamentos existenciais. Circunstâncias que comungam para a tragédia daquele senhor que ao vislumbrar a morte a espreita teme ser engolido pela perenidade do tempo, esquecido em morte como já tem sido em vida.
Arcaro criou uma obra literária para ser consumida em um fôlego só. A construção do personagem é expressa não só por uma voz, mas por várias delas. Vozes soltas no texto, sem aspas, sem travessões. Blocos sólidos de diálogos, pensamentos, visões. O lado imóvel do tempo transita, sem obedecer uma ordem cronológica, entre as várias fases da vida de seu protagonista cinzento. Os capítulos passeiam por passado, presente e futuro. A cada momento, somos testemunhas dos fracassos do bancário aposentado e assassino em série que para se sentir vivo precisa ser visto, ser percebido. Mas o telefone da mulher amada não atende, o cachorro, único e melhor amigo, está morto. Sua única companhia é uma coleira velha.
Com os crimes, Salvador quer ser reconhecido. Ele expressa o desejo que os transeuntes se assombrem ao trocarem olhares com ele. Todavia, na verdade só quer ser visto, que o percebam. O tom existencial da obra ainda discorre sobre o homem-máquina, burocrata que sem razão trabalha sem nunca se encontrar. Estrangeiro de si mesmo, Salvador dos Santos é um trabalhador contemporâneo que não encontra sentido no ser, depois da fetichização do ter e de um lidar com o agora, sempre urgente.
O lado imóvel do tempo é, portanto, um livro que causa estranheza e identificação. O pânico de Salvador frente a estrutura social e econômica em que ele é descartável — sua aposentadoria revela mais o contentamento dos jovens companheiros de trabalho que o vêm como ultrapassado, do que pesar — é facilmente identificado entre relatos de não-ficção. Tanto que Bauman nomeou o fenômeno como vida líquida em seu compêndio de estudos publicados em 2005.
A narrativa traz a agonia do devir e da busca de dar sentido a sua existência para o plano literário: diferente, por exemplo, de Pessoa, seu cachorro, que existe por si, satisfeito com suas peculiaridades, Salvador age, loucamente, tentando “se achar”. Aliás, a escolha do nome do amigo-cachorro diz muito da obra. É na poesia do português Fernando Pessoa que Salvador se identifica. Em A escolha das horas, assinada por uma das personas do poeta, Álvaro de Campos, uma passagem sintetiza a ambiguidade de uma vida rasa, cansada e a busca incessante pela eternidade. “Não sei se a vida é pouco ou demais para mim”, escreveu Pessoa no que melhor caberia no epitáfio de Salvador dos Santos.