Contava eu com 14 anos quando, um dia na escola, projetei-me com 30. A imagem foi assustadora: um velho de terno e gravata, testa vincada e um olhar baço que via o próprio futuro como um ser pálido e mirrado.
Hoje pela manhã, 05 de janeiro de 2014, a projeção bateu à minha porta. E trouxe entre os seios um Matheus bem diferente do que aquele que o adolescente cheio de espinhas imaginou.
Dizem que fazer 30 anos é um marco. Porém, como os marcos não existem fora do âmbito da convenção, posso supor que sou hoje o que era ontem acrescido das experiências que preenchem esse hiato. E esses hiatos somados fazem de mim um homem que, se encontrasse uma lâmpada mágica entre os desejos entulhados, jamais pediria para voltar aos 20 anos. Por quê?
Porque aprendi que viver é qualquer coisa inominável, mas irrevogável e intransferível; uma coisa bem diferente do que somos condicionados a fazer desde pequenos. Aprendi que sou um porvir que cessará somente quando eu deitar num caixote marrom. Aprendi que “quem faz o destino é a gente, na mente de quem for capaz”: que me formo no tempo, de modo contínuo e constante, sem auxílio de quaisquer instâncias metafísicas. Aprendi que a lamentação não tem o poder de revogar o passado e que a esperança é uma dama ardilosa, excessivamente maquilada. Aprendi a amar intensamente o presente e ver a vida em sua inteireza como uma tela sublime, cujo pintor (que sou eu) continuará suas pinceladas enquanto respirar.
Contudo, sei que ainda só enxergo o mundo pelo buraco da fechadura. Sinto como se estivesse no primeiro terço da leitura de um livro imenso mas, que de tão bom, torço para que não acabe. Por isso vejo os próximos 30 anos feito uma criança em frente à vitrine de brinquedos: quero reforçar os laços afetivos que já costurei e, principalmente, criar novos para que o meu pau-de-fitas fique cada vez mais colorido. Quero me estabelecer como escritor, concluir mestrado e doutorado. Quero me enfiar de cabeça em tudo o que é criação humana. Quero abrir meus poros para o “Sentimento do mundo”. Quero, enfim, viver cada segundo pensando no dia em que eu estiver com 90 anos e, com a caneta ainda em punho, olhar para trás e afirmar de boca cheia: valeu a pena!